«La pensée pense ce qui la dépasse infiniment»




2013-07-19

TRAVESSAS DO DESEJO



Vontade irracional de rever você.  
«Rêver» de sonhar em francês... 
Já, sem querer-querendo, minha língua se mistura
com a sua, incessantemente,
num «turbilhão de pensamentos»,
numa onda-sensitiva fora da palavra.

Minha língua que valsa-vira-vadia com a sua, veemente, a jamais presa na minha boca. 
Me castiga.  Me agrada.  Me alimenta.
Língua torta.
Língua portuguesa, brasileira, feminina, mutante.
Língua clara, na distância.

Túnel tenebroso do inconsciente que me traz, na ponta dos dedos, na febrilidade dos poros, nas curvas dos nervos, a ternura cruel do seu corpo.

Desejo-Nojo que invade, gritante, meu peito, meu sexo, meu ventre.                       
Desejo-Fogo que acende minha escuridão.  
Desejo-Sonho sendo Realidade.             
             Saudade.                                                                                                           
Vontade irracional de rever você.  
Acontece toda noite, esmaece um pouco de dia,
apenas para viver.  Vaporosa fumaça.  Macúmba.
Você esta comigo, e sempre estará, pois nosso encontro ocorreu antes de ter ocorrido, pois nosso encontro acontece a cada dia, na angústia do vazio e do tempo que passa e me deixa sem nada, e me deixa sem tempo.

Nosso encontro tem como horizonte os nossos dois corpos deitados juntos na Eternidade,                                            
 e como direção a volta do hoje sobre ele mesmo.
                                                                                Nos temos agora uma atualidade sem esperança.

Eu sinto essa conexão inexplicável entre nós que não romperá, conexão que esta tão tensa 
como aquela corda, sobre a qual estamos ajeitadas. 

Nós.  Duas sombras em pleno Sol.                                                             Olhando na mesma direção.                                                                                                                   
Até cair.
Até cair do outro lado.
Até romper a trama da realidade, rasgar tudo, entrar no momento puro
e sem fronteiras nem tempo, nem hora, nem noite,                                                                  Nem dia.
Até perder o Norte.
Até entrar na escuridão dos nossos dois olhares de cegos.
Olharemo-nos com as mãos, com a boca, com a língua, com os dentes.

Correremos na arreia esgotando a respiração vermelha.
Correremos até chegar ao ponto da estrada que tem fim em forma de duna
Que tem fim em forma redonda de cama
Que tem fim com parede abrindo pelo mar, pela eternidade de um renascimento
                                                                                                                                                                   Sem fim.


2013-07-03

correspondência erótica III- provocação


O que lhe deixa em silêncio? Mole? Mudo?
O que lhe deixa sem fala, sem gana
de subida alta da soberba Majestade
Livremente ousada - Impunemente fascista

Sexo?

Quem é que matou o desejo, desviou o impulso, reduziu o tempo
Para você não querer mais cortar o pulso cotidiano,

Furar as entranhas da vida
Furar  as entranhas do nada – o pequeno segredo

Sujo?

Uma carne aberta – pedindo toque
Uma carne aberta- pedindo choque
Uma carne aberta – pedindo

Carne.

Se você não fizer, eu faço, se você fizer, eu disfarço, se você não quiser, eu peço, se você quiser, eu insisto

Olha para mim, olha o seu ser podre refletido nas catacumbas do meu desejo
Olha para mim, olha a luz e sombra da sua perversão precocemente chegando
Olha para mim, e esquece tudo do seu ser limpo- fabricado

Falso.

Deixa o seu corpo se deleitar do meu bafo abafado, bate papo, bate pau
Deletando a sua covardia, penetrando- comendo a sua menor vergonha

Agora.

Vou encerrar um pouco o nó no seu pescoço
Vou encerrar um pouco o dó com minhas mãos
Para você se sentir mais livre – sem ar, mais livre- sem mar
Mais livre de amar atado-desatado do amor
Mais livre de se livrar

Ao sexo.

2013-06-25

TRAVERS(ÉES) DU DÉSIR



Irraisonnable envie de te revoir.  «Rever você».  Rêver, en français...

Déjà, le voulant ou non, ma langue se mélange avec la tienne, incessamment, dans un «tourbillon de pensées», dans une onde-sensitive loin du mot.

Ma langue qui valse-vire-vagabonde avec la tienne, à jamais prise dans ma bouche, véhémente.
Me contraint.  M’étreint.  M’alimente.  
Langue tordue.  Langue portugaise, brésilienne, féminine, mutante. 
Langue claire et limpide, dans la distance.
Tunnel ténébreux de l’inconscient qui trace, sur la pointe des doigts, à la surface fébrile des pores, dans la courbe des nerfs,  l’onctuosité cruelle de ton corps.
Désir-Nausée qui envahit ma poitrine, hurlante, mon sexe, ma tête, mon ventre.
Désir-Feu qui enflamme ma noirceur.
Désir-Rêve rendu Réalité.                                                                                                                 Désir hanté.
Irraisonnable envie de te revoir.  Volonté immense qui me submerge chaque nuit, se dissipe un peu le jour, à peine pour vivre.  Sillon de vaporeuse fumée, maléfice, danger.

Tu es avec moi. Tu le seras toujours, car notre rencontre a eu lieu avant que d’avoir lieu, car notre rencontre se répète chaque jour, dans l’angoisse du vide et du temps qui passe et me laisse sans toi, et me laisse sans temps.

Notre rencontre a comme horizon nos deux corps étendus ensemble dans l’Éternité,                                                                             et comme direction le repli d’aujourd’hui sur lui-même.

Nous avons maintenant une actualité sans espoir.

Je sens cette connexion inexplicable entre nous qui jamais ne sera rompue, connexion tendue tout comme cette corde, sur laquelle nous nous tenons.
Nous. Deux ombres en plein Soleil.                                                                   Regardant dans la même direction.
.            Jusqu’à tomber.

Jusqu’à tomber de l’autre côté.
Jusqu’à rompre la trame de la réalité, tout déchirer, entrer dans le moment pur et sans frontières ni temps, ni heure, ni nuit                                                                           Ni jour.
Jusqu’à perdre le Nord.
Jusqu’à entrer dans l’obscurité de nos deux regards d’aveugles.
Nous nous regarderons avec les mains, avec la bouche,
avec la langue, avec les dents.

Nous courrons dans le sable jusqu’à épuiser la respiration rouge.
Nous courrons jusqu’à arriver au bout de la route qui prend fin
en forme de dune, qui prend fin en forme ronde de lit
Qui prend fin sur un mur s’ouvrant sur la mer, dans l’éternité d’un recommencement                              
                                                                                                        Sans fin.        
                                                                                                                           

eu quero a sorte.



Eu quero a sorte de um amor que me faz sofrer
Um amor no qual as bocas são vermelhas de se ter tanto mordido
De se ter tanto beijado, de se ter tanto amado

Eu quero a sorte de um amor que me faz perder
Um amor que tem como limite a propensão de não ter nenhum
E uma dor profunda com qual a mais pura alegria se confunde

Eu quero a sorte de um amor que me faz parar
Me leva num mundo revirado de tão claramente escurecer
Derruba, arruina o pensamento antes mesmo dele ocorrer

Eu quero a sorte de um amor que me faz temer
No risco e na violência de uma pele que na outra se encontra
Na intimidade cruel de um mesmo sopro sufocado que desvela
Olhares e cantares
Sabor de vida e morte

Eu quero o azar
Eu quero a sorte