Vontade irracional de rever você.
«Rêver» de sonhar em francês...
Já, sem querer-querendo, minha língua se mistura
Já, sem querer-querendo, minha língua se mistura
com a sua, incessantemente,
num «turbilhão de pensamentos»,
num «turbilhão de pensamentos»,
numa onda-sensitiva fora da palavra.
Minha língua que valsa-vira-vadia com a sua, veemente, a jamais presa na minha boca.
Me castiga. Me agrada. Me alimenta.
Língua torta.
Minha língua que valsa-vira-vadia com a sua, veemente, a jamais presa na minha boca.
Me castiga. Me agrada. Me alimenta.
Língua torta.
Língua portuguesa, brasileira, feminina, mutante.
Língua clara, na distância.
Língua clara, na distância.
Túnel tenebroso do inconsciente que me traz, na ponta dos dedos, na
febrilidade dos poros, nas curvas dos nervos, a ternura cruel do seu corpo.
Desejo-Nojo que invade, gritante, meu peito, meu sexo, meu ventre.
Desejo-Nojo que invade, gritante, meu peito, meu sexo, meu ventre.
Desejo-Fogo que acende minha escuridão.
Desejo-Sonho sendo Realidade.
Saudade.
Vontade irracional de rever você.
Acontece toda noite, esmaece um pouco de dia,
apenas para viver. Vaporosa fumaça. Macúmba.
Você esta comigo, e sempre estará, pois nosso encontro ocorreu antes de
ter ocorrido, pois nosso encontro acontece a cada dia, na angústia do vazio e
do tempo que passa e me deixa sem nada, e me deixa sem tempo.
Nosso encontro tem como horizonte os nossos dois corpos deitados juntos
na Eternidade,
e
como direção a volta do hoje sobre ele mesmo.
Nos temos agora uma atualidade sem esperança.
Nos temos agora uma atualidade sem esperança.
Eu sinto essa conexão
inexplicável entre nós que não romperá, conexão que esta tão tensa
como aquela
corda, sobre a qual estamos ajeitadas.
Nós. Duas
sombras em pleno Sol.
Olhando na mesma direção.
Até cair.
Até cair do outro lado.
Até romper a trama da realidade, rasgar tudo, entrar no momento puro
e sem fronteiras nem
tempo, nem hora, nem noite,
Nem dia.
Até perder o Norte.
Até entrar na escuridão dos nossos dois olhares de cegos.
Olharemo-nos com as mãos, com a boca, com a língua, com os dentes.
Correremos na arreia esgotando a respiração vermelha.
Correremos até chegar ao ponto da estrada que tem fim em forma de duna
Que tem fim em forma redonda de cama
Que tem fim com parede abrindo pelo mar, pela eternidade de um
renascimento
Sem fim.