«La pensée pense ce qui la dépasse infiniment»




2013-06-25

TRAVERS(ÉES) DU DÉSIR



Irraisonnable envie de te revoir.  «Rever você».  Rêver, en français...

Déjà, le voulant ou non, ma langue se mélange avec la tienne, incessamment, dans un «tourbillon de pensées», dans une onde-sensitive loin du mot.

Ma langue qui valse-vire-vagabonde avec la tienne, à jamais prise dans ma bouche, véhémente.
Me contraint.  M’étreint.  M’alimente.  
Langue tordue.  Langue portugaise, brésilienne, féminine, mutante. 
Langue claire et limpide, dans la distance.
Tunnel ténébreux de l’inconscient qui trace, sur la pointe des doigts, à la surface fébrile des pores, dans la courbe des nerfs,  l’onctuosité cruelle de ton corps.
Désir-Nausée qui envahit ma poitrine, hurlante, mon sexe, ma tête, mon ventre.
Désir-Feu qui enflamme ma noirceur.
Désir-Rêve rendu Réalité.                                                                                                                 Désir hanté.
Irraisonnable envie de te revoir.  Volonté immense qui me submerge chaque nuit, se dissipe un peu le jour, à peine pour vivre.  Sillon de vaporeuse fumée, maléfice, danger.

Tu es avec moi. Tu le seras toujours, car notre rencontre a eu lieu avant que d’avoir lieu, car notre rencontre se répète chaque jour, dans l’angoisse du vide et du temps qui passe et me laisse sans toi, et me laisse sans temps.

Notre rencontre a comme horizon nos deux corps étendus ensemble dans l’Éternité,                                                                             et comme direction le repli d’aujourd’hui sur lui-même.

Nous avons maintenant une actualité sans espoir.

Je sens cette connexion inexplicable entre nous qui jamais ne sera rompue, connexion tendue tout comme cette corde, sur laquelle nous nous tenons.
Nous. Deux ombres en plein Soleil.                                                                   Regardant dans la même direction.
.            Jusqu’à tomber.

Jusqu’à tomber de l’autre côté.
Jusqu’à rompre la trame de la réalité, tout déchirer, entrer dans le moment pur et sans frontières ni temps, ni heure, ni nuit                                                                           Ni jour.
Jusqu’à perdre le Nord.
Jusqu’à entrer dans l’obscurité de nos deux regards d’aveugles.
Nous nous regarderons avec les mains, avec la bouche,
avec la langue, avec les dents.

Nous courrons dans le sable jusqu’à épuiser la respiration rouge.
Nous courrons jusqu’à arriver au bout de la route qui prend fin
en forme de dune, qui prend fin en forme ronde de lit
Qui prend fin sur un mur s’ouvrant sur la mer, dans l’éternité d’un recommencement                              
                                                                                                        Sans fin.        
                                                                                                                           

eu quero a sorte.



Eu quero a sorte de um amor que me faz sofrer
Um amor no qual as bocas são vermelhas de se ter tanto mordido
De se ter tanto beijado, de se ter tanto amado

Eu quero a sorte de um amor que me faz perder
Um amor que tem como limite a propensão de não ter nenhum
E uma dor profunda com qual a mais pura alegria se confunde

Eu quero a sorte de um amor que me faz parar
Me leva num mundo revirado de tão claramente escurecer
Derruba, arruina o pensamento antes mesmo dele ocorrer

Eu quero a sorte de um amor que me faz temer
No risco e na violência de uma pele que na outra se encontra
Na intimidade cruel de um mesmo sopro sufocado que desvela
Olhares e cantares
Sabor de vida e morte

Eu quero o azar
Eu quero a sorte

coisas.



Coisas são coisas e têm nome de coisas
Nome de preso, pirata, herói, deus
Coisas anónimas, coisas

Coisas se accumulam como poeira no sertão
Se esvaziam como tempo esgotado - vento
Coisas são de tudo e coisas são de nada

Coisas caem no chão e outras
Ficam grudadas na parede
Coisas deretem e outras se desmancham

Coisas permanecem e outras arrotam
Coisas com soluço e coisas soltas
Coisas no ar lançadas - no alto

Promessas de céu coisas apagadas
Como velas cansadas, coisas lindas
Feias, triunfantes
Coisas que chegam e outras que se despedem

Coisas são duras como pedra,
Outras frágeis e flutuantes como mar
Coisas nos apegam e se desapegam de nos
Umas nos pertecem, outras se descolam

Coisas são imprevisíveis
Outras se repetem, voam e voltam
Para nos lembrar
Que coisas se esquecem

Coisas invadem o mundo
Tantas estampas num vestido branco
Coisas de tantas coisas feitas
Que perdem o sentido

Estofa de tecido manchado
Coisas que enfeitam, nos agarram,
Nos prendem, nos vestem e
Nos despojam

Coisas que nos fazem humanos
Unidos, divididos, mexidos
Entre outras
Coisas

correspondência erótica II



...quero falar, quero sim

quero falar do que não se sabe, do que não se fala
do que só se cala, de boca calada –colada
no sexo, na pele, no rabo
onde só entra e sai, entra e sai, entra e sai

o fluxo

quero falar, falar o que me molha, de voz muda alta

me molha a ideia, me molha a inteligência, a obscenidade, o perigo
me molha o desafio
me molha a ideia de ti, a ideia do desejo, me molha o visível
e o invisível junto
                                                    
me molha a ideia do olho, do dedo, do jogo, do tesão,
me molha a ilusão de ver
me molha o espaço entre eu e a ideia
me molha a ideia  em si

me molha a tensão do não entrar
embora eu quero é o entrar

me penetra
só se não tiver saida

me penetra
só se não tiver verdade

me penetra
só se não tiver eu

quero o des-manchar, o des-abafo, o des-apego, o des-astre
quero, mais que o céu, algo que me saciasse

me penetra
me penetra agora
me penetra com lingua, com dedo, com barba, com pica, com medo
me penetra por dentro
me penetra por fora
me penetra

mas não me olha e falha

o que te molha?