«La pensée pense ce qui la dépasse infiniment»




2011-01-27

Estou com vontade de te ver. Vontade de sentir a tua pele quente contra minha. Vontade de tremer ao contacto dos teus dedos seguindo tranquilamente as linhas do meu corpo. Vontade de curvar o tempo para ficar nos teus braços numa das eternidades. Uma eternidade só.

Eu queria te prender agora. Apertar-te na minha boca. Adivinhar, pelos movimentos de ondulação do teu corpo, o teu prazer. Eu queria tambem ouvir os teus lamentos lascivos, dirigindo assim a minha língua ao redor da tua virilidade. Lentamente, acariciá-la-ia, deixando as sensações penetrar em cada nervo, cada músculo, cada pulsação do teu coração batendo mais e mais rapidamente. Erguendo-te na minha boca, abandona-te-ia aos meus lábios ávidos de ti, fechando os olhos, tremulando. Comer-te-ia então inteiramente, pondo o teu membro até às profundezas da minha fome.

Tenho um desejo de ti que não consigo apagar, nem aliviar. Puxar-te-ia na extremidade da minha garganta, e te aguardaria lá um momento, ao extremo do possível, à fronteira do nojo, do desmaio. Iniciaria depois um movimento de vaivém, deixando-te entrar e sair, enrolando minha língua em volta de ti, esperando colher o teu veneno. Querendo consumir o pecado.

Impediria-me de ganhar com tanta injustiça a fonte do teu prazer. Docemente apanhando meu cabelo, tiraria o teu sexo da gruta húmida formada pelos meus lábios. De volta à luz, lúcido, feroz, encostaria-me na parede do outro lado do quarto. Um sentimento de desejo, exaltação e angustia invadiria o meu corpo, infiltrando-se em cada poro do meu ser. Tu me levantarias mais alto na parede, minhas pernas cercando naturalmente tuas ancas. Teus braços fortes segurariam o meu corpo enquanto eu abraçaria teu pescoço com paixão. Minha pele se arrepiaria, teus labios beijando meus seios, tua voz doce se perdendo num murmúrio imperceptível.

Rapidamente, dançaríamos ao ritmo da colisão dos nossos corpos transidos pelo prazer. Eu te deixaria penetrar aos confins da minha intimidade, viajando no meu corpo como rolando na selva. Confiaria-te minha escuridão, meus desertos, as regiões inexploradas que me compõem. Confiaria-te até minha prosa. Minha doce loucura...

Empurrando-me na parede em cada impulso, minhas costas bateriam na sua matéria fria. Nossas respirações, subindo as escadas do desejo, formariam um som indistinto, grosso, quase inumano.

Quando a excitação deixar o abandono ganhar pouco a pouco os corpos exasperados; quando a tensão, insuportável, não puder mais ser aguentada pelo cérebro; quando, no ápice das sensações confusas saírem emoções ainda mais incompreensíveis, a parede se tornará água.

Eu sonhei com essa parede sem começo nem fim, erigida na frente do meu corpo. Uma parede azul parada no tempo, presa no instante. Informe e estranhamente mole.

Atravessaríamos a parede, pois atingindo os limites da realidade, os nossos corpos cairiam do outro lado, levados pela parede agora sendo mar. Mergulharíamos através dos peixes coloridos e dos tubarões.

Não haveria nem barulho, nem som. Só teria este silêncio de naufrágio. E um sentimento no meu peito submergido pela água. Um sentimento imenso e movente como a onda. Medo misturado com uma sensação incrível de calma. Paz.

Eu já sonhei com essa parede, alta, essa parede, infinita, de água.

Estou com vontade de te ver. Na ilha do meu quarto.

Na ilusão duma verdade maior que todas as mentiras.

Na miragem de nós.

Nós.