Vou lhes contar uma história. Pois contar histórias é o único
modo que existe para dizer a verdade sem dizê-la, deixando-la intacta,
imaculada. E, aliás, contar é o ato máximo de traição.
Não sendo uma reprodução, a verdade tem que ser transcriada. Sua pureza
se aguarda na transição eterna do sentido, na sua dislocação interna.
As vezes deixar os personagens de uma história agir numa realidade
fantasiada parece tirar do autor qualquer responsabilidade, cria a
distância necessária para dizer.
Na distância entre o
escritor e as palavras dele existe um mundo de riquezas escuras. Esta
história falará desse mundo, mundo que existe entre os mundos, mundo de
energias, mundo de impossibilidades sendo possíveis e impossíveis ao
mesmo tempo . No intervalo entre Eu-autor e o Objeto-história será
criado um abismo, e da captura desse abismo pelo leitor, se criará outra
brecha, outro mundo avesso.
Um túnel.
A
conexão silenciosa entre essas duas energias, se elas conseguirem
encontrar-se, dará luz, pela reciprocidade, à uma verdade maior. Uma
verdade incomunicável, por qualquer tipo de fala, – e, no entanto
comunicada -, uma verdade nascida de uma dor prazerosa, uma verdade muda
– e,no entanto, comunicada-.
Uma nostalgia do
que foi sabido, do que foi esquecido ou do que se sabe que foi
esquecido. E ainda não - Sabemos nem Esquecemos.
Uma revelação súbita seguida por um vazio.
Acontecerá.
Somente se tiver reciprocidade...
E nem tem nenhuma história para contar. Apenas aquela história que segue não acontecendo.
Ou me esqueci.
Sei lá...